
“Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz. Guardando as recordações das terras onde passei, andando pelos sertões, e dos amigos que lá deixei.” Podemos começar a viagem ao som de Luiz Gonzaga. O destino não importa, pois pode mudar a qualquer momento. O que interessa são os pequenos acontecimentos que surgem durante a jornada – que tem começo, mas não precisa ter fim. Vamos falar de viver viajando, morar na estrada, colocar a casa para rodar ou qualquer outra expressão que você prefira para descrever o encanto que é sair por aí em um trailer ou motor home.
No clássico beatnik On the Road, o escritor Jack Kerouac conta suas viagens atravessando os Estados Unidos, do Atlântico ao Pacífico, em poucos dias no fim da década de 40. “Eu sabia que na estrada, em algum lugar, a pérola me seria ofertada”, escreveu Kerouac. Em busca dessa pérola, cerca de 6 mil pessoas rodam pelo Brasil experimentando a sensação de andar em casas motorizadas.
É bem diferente essa vida de caramujo. A sensação de liberdade é multiplicada, porque você tem uma mobilidade muito maior. Para quem pega a estrada com um trailer não existem reservas, horários, hotéis, aeroportos. Na praia, na montanha, em uma pequena cidade perdida no interior do país, você está sempre em casa – com cama de casal, banheiro com chuveiro quente, fogão, geladeira, microondas, TV. Também não é preciso comer em restaurantes, você pode fazer sua própria comida. Dá para levar bicicleta, moto, prancha de surfe, cachorro. Tem gente que leva até o carro a reboque. “Não sinto falta do meu colchão, da cama da minha casa. Levo minha cama comigo”, diz Fana Leal, que há seis meses viaja pelo Brasil com o marido Ivus, em um motor home.
Ah, sim, vamos logo esclarecer a diferença: o motor home parece um ônibus, em que motor e “casa” ficam juntos; trailer é o que vem separado e a gente reboca com o carro. Tanto um quanto o outro soam pouco convencionais por aqui, mas em outros países é bastante comum viajar nessas engenhocas. Nos Estados Unidos, existem 4 milhões desses veículos rodando. Na Europa, mais de 1 milhão. Surgiram no início do século passado, quando motoristas americanos modificavam seus carros para passeios no campo. Na década de 60, com preços mais acessíveis, as vendas explodiram. O escritor americano John Steinbeck viajou pelos Estados Unidos em um caminhão adaptado nessa época e fez um livro sobre a experiência, Viagens com o Charley. Durante a jornada, ele escreveu para sua mulher contando que era muito fácil se aproximar das pessoas porque todos adoravam o caminhão e queriam conhecê-lo por dentro.
O casal Fana e Ivus é testemunha de que, no Brasil, a curiosidade segue até hoje. Os dois não aparecem desde abril em sua residência fixa, na cidade baiana de Paulo Afonso. Já passaram por Sergipe, Espírito Santo, Minas Gerais,Mato Grosso. Conheceram lugares paradisíacos como Bonito e as chapadas dos Veadeiros e dos Guimarães. Professor aposentado, Ivus diz que o motor home, comprado em 2001, foi a forma que o casal encontrou para alongar a vida de uma forma mais prazerosa. Pelo caminho, ele se diverte assustando meninos de pequenas cidades que ficam intrigados com a chegada de um veículo tão fora do comum. “Quando perguntam o que tem dentro, digo que levo um monte de defuntos empilhados.”
A dupla representa bem essa tribo rodante. São casais acima dos 45 anos, com filhos já crescidos e estabilizados financeiramente. Muitos são aposentados. Primos-irmãos da tribo dos campistas, eles também são amantes de natureza e prezam a informalidade e o conforto. As roupas são simples – claro, eles estão sempre em casa. Gostam de ver o pôr-do-sol, admirar as noites, ouvir passarinho.
No clássico beatnik On the Road, o escritor Jack Kerouac conta suas viagens atravessando os Estados Unidos, do Atlântico ao Pacífico, em poucos dias no fim da década de 40. “Eu sabia que na estrada, em algum lugar, a pérola me seria ofertada”, escreveu Kerouac. Em busca dessa pérola, cerca de 6 mil pessoas rodam pelo Brasil experimentando a sensação de andar em casas motorizadas.
É bem diferente essa vida de caramujo. A sensação de liberdade é multiplicada, porque você tem uma mobilidade muito maior. Para quem pega a estrada com um trailer não existem reservas, horários, hotéis, aeroportos. Na praia, na montanha, em uma pequena cidade perdida no interior do país, você está sempre em casa – com cama de casal, banheiro com chuveiro quente, fogão, geladeira, microondas, TV. Também não é preciso comer em restaurantes, você pode fazer sua própria comida. Dá para levar bicicleta, moto, prancha de surfe, cachorro. Tem gente que leva até o carro a reboque. “Não sinto falta do meu colchão, da cama da minha casa. Levo minha cama comigo”, diz Fana Leal, que há seis meses viaja pelo Brasil com o marido Ivus, em um motor home.
Ah, sim, vamos logo esclarecer a diferença: o motor home parece um ônibus, em que motor e “casa” ficam juntos; trailer é o que vem separado e a gente reboca com o carro. Tanto um quanto o outro soam pouco convencionais por aqui, mas em outros países é bastante comum viajar nessas engenhocas. Nos Estados Unidos, existem 4 milhões desses veículos rodando. Na Europa, mais de 1 milhão. Surgiram no início do século passado, quando motoristas americanos modificavam seus carros para passeios no campo. Na década de 60, com preços mais acessíveis, as vendas explodiram. O escritor americano John Steinbeck viajou pelos Estados Unidos em um caminhão adaptado nessa época e fez um livro sobre a experiência, Viagens com o Charley. Durante a jornada, ele escreveu para sua mulher contando que era muito fácil se aproximar das pessoas porque todos adoravam o caminhão e queriam conhecê-lo por dentro.
O casal Fana e Ivus é testemunha de que, no Brasil, a curiosidade segue até hoje. Os dois não aparecem desde abril em sua residência fixa, na cidade baiana de Paulo Afonso. Já passaram por Sergipe, Espírito Santo, Minas Gerais,Mato Grosso. Conheceram lugares paradisíacos como Bonito e as chapadas dos Veadeiros e dos Guimarães. Professor aposentado, Ivus diz que o motor home, comprado em 2001, foi a forma que o casal encontrou para alongar a vida de uma forma mais prazerosa. Pelo caminho, ele se diverte assustando meninos de pequenas cidades que ficam intrigados com a chegada de um veículo tão fora do comum. “Quando perguntam o que tem dentro, digo que levo um monte de defuntos empilhados.”
Primos dos campistas
Costumam dormir em campings, só que com uma vantagem considerável sobre a turma da barraca: não precisam cumprir a tarefa chata de montar e desmontar tudo. Também podem pernoitar em praias, praças e em qualquer lugar que pareça seguro, como postos de gasolina.Nos postos, por sinal, mantêm contato com os caminhoneiros, que servem de anjos da guarda. Os profissionais dão dicas sobre rotas, condições das estradas, bons locais para dormir. Muitas vezes, o que começa como simples troca de informação acaba em amizade.
Viajar diverte, ensina, transforma. Por isso, sair rodando com a casa nas costas é uma experiência única, ideal para quem deseja um encontro consigo mesmo, sem nenhum outro compromisso. É, falta de compromisso é bem a expressão para este caso.Muda-se de itinerário em um piscar de olhos,sem o menor problema. É só virar o volante. Não há a preocupação com reservas. Nada de horários definidos.
“Você estaciona à beira-mar e está em sua casa de praia. Seu conforto continua o mesmo”, diz Luiz Edgar Tostes, que comprou seu primeiro trailer em 1972, em uma das séries pioneiras fabricadas no Brasil. “Tinha dois beliches e dois sofás que se transformavam em camas. Viajei durante dez anos, às vezes com até nove pessoas, entre filhos e seus amiguinhos. Conhecemos o litoral brasileiro de Natal até o sul e chegamos a Punta del Este.”
Ninguém se iluda achando que, de fato, o conforto de circular em uma casa motorizada é o mesmo de estar em uma casa de verdade. Para alguns, o pouco espaço e a convivência próxima com os companheiros de viagem podem sugerir uma experiência parecida com um Big Brother em uma casa de bonecas. Parece piada, mas o assunto já rendeu até filme, o argentino Família Rodante, que está para estrear no Brasil e junta 12 parentes a bordo de uma casa construída em cima de um Chevrolet Viking 1952.
Agora, também dá para considerar a economia de espaço uma grande vantagem. “Você aprende a só levar o essencial”, diz o carioca Jorge Barreto, que passa oito meses por ano na estrada ao lado da mulher, Atianaira, em seu chamativo motor home vermelho, com que já conheceu muitos cantos do Brasil e agora pretende ir ao México. Ou seja, essa questão prática ajuda a gente a se conhecer melhor, percebendo o que realmente importa e convidando a se desapegar do que é supérfluo. Também serve de estímulo a se abrir para o mundo, em lugar de se refugiar num cantinho fechado.
Nesse sentido, viajar em uma casa motorizada é descomplicar a vida. “Fica tudo bem mais simples”, diz Luiz Alberto da Silva, diretor de imagem da Rede Globo, que no tempo de folga costuma sair sem destino certo, para decidir no caminho. A experiência também ajuda a fazer amizades menos seletivas. “Raramente você sabe o que a pessoa que acabou de conhecer faz ou os bens que ela tem”, diz Luiz Tostes. Ele explica que as conversas costumam girar em torno de relatos de viagem, equipamentos, locais a serem visitados e esportes, e a informalidade faz com que as diferenças sociais não apareçam.
Luiz, que viaja nesses veículos há mais de 30 anos e é diretor da Associação Brasileira de Campismo, diz que mesmo depois de tanto tempo a estrada ainda oferece surpresas em suas viagens. “Sempre aparecem locais que ainda não conhecemos, mas que valem uma visita”, afirma.
Revista Vida Simples
Viajar diverte, ensina, transforma. Por isso, sair rodando com a casa nas costas é uma experiência única, ideal para quem deseja um encontro consigo mesmo, sem nenhum outro compromisso. É, falta de compromisso é bem a expressão para este caso.Muda-se de itinerário em um piscar de olhos,sem o menor problema. É só virar o volante. Não há a preocupação com reservas. Nada de horários definidos.
“Você estaciona à beira-mar e está em sua casa de praia. Seu conforto continua o mesmo”, diz Luiz Edgar Tostes, que comprou seu primeiro trailer em 1972, em uma das séries pioneiras fabricadas no Brasil. “Tinha dois beliches e dois sofás que se transformavam em camas. Viajei durante dez anos, às vezes com até nove pessoas, entre filhos e seus amiguinhos. Conhecemos o litoral brasileiro de Natal até o sul e chegamos a Punta del Este.”
Ninguém se iluda achando que, de fato, o conforto de circular em uma casa motorizada é o mesmo de estar em uma casa de verdade. Para alguns, o pouco espaço e a convivência próxima com os companheiros de viagem podem sugerir uma experiência parecida com um Big Brother em uma casa de bonecas. Parece piada, mas o assunto já rendeu até filme, o argentino Família Rodante, que está para estrear no Brasil e junta 12 parentes a bordo de uma casa construída em cima de um Chevrolet Viking 1952.
Agora, também dá para considerar a economia de espaço uma grande vantagem. “Você aprende a só levar o essencial”, diz o carioca Jorge Barreto, que passa oito meses por ano na estrada ao lado da mulher, Atianaira, em seu chamativo motor home vermelho, com que já conheceu muitos cantos do Brasil e agora pretende ir ao México. Ou seja, essa questão prática ajuda a gente a se conhecer melhor, percebendo o que realmente importa e convidando a se desapegar do que é supérfluo. Também serve de estímulo a se abrir para o mundo, em lugar de se refugiar num cantinho fechado.
Nesse sentido, viajar em uma casa motorizada é descomplicar a vida. “Fica tudo bem mais simples”, diz Luiz Alberto da Silva, diretor de imagem da Rede Globo, que no tempo de folga costuma sair sem destino certo, para decidir no caminho. A experiência também ajuda a fazer amizades menos seletivas. “Raramente você sabe o que a pessoa que acabou de conhecer faz ou os bens que ela tem”, diz Luiz Tostes. Ele explica que as conversas costumam girar em torno de relatos de viagem, equipamentos, locais a serem visitados e esportes, e a informalidade faz com que as diferenças sociais não apareçam.
Luiz, que viaja nesses veículos há mais de 30 anos e é diretor da Associação Brasileira de Campismo, diz que mesmo depois de tanto tempo a estrada ainda oferece surpresas em suas viagens. “Sempre aparecem locais que ainda não conhecemos, mas que valem uma visita”, afirma.
Revista Vida Simples
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